Eu li em algum lugar o relato de uma mãe falando que o amor que ela tinha por seu filho recém-nascido não tinha sido automático, mas desenvolvido a partir do nascimento dele, da convivência entre ambos, das descobertas e das experiências que passaram a ter juntos. Guardadas as devidas proporções, claro, eu me sinto assim com o meu Kindle.
Obviamente, não como uma mãe faz em relação a um filho, mas me preparei para recebê-lo: li vários comentários de quem já tinha um, conversei com várias pessoas sobre a possibilidade de comprar um para chamar de meu, olhei as versões disponíveis, as opções de capa. Ponderei, ponderei, ponderei, até que cedi.
Quando o meu Kindle Paperwhite chegou, eu o olhei com o espanto de quem já tinha visto vários parecidos, mas não sabia exatamente o que fazer com o seu. E com isso quero dizer que eu não me lembrava mais de como o bicho funcionava, porque meu contato mais próximo com um outro Kindle tinha acontecido há nem sei quantos anos, por menos de uma semana, com zero esforço de minha parte para construir qualquer relação com ele (tanto que o dei para uma amiga). Assim, dessa vez, a minha aproximação com o meu Kindle começou lenta, muito lenta. Mas começou.
Eu já tinha alguns livros no aplicativo do Kindle (que a gente pode baixar no celular ou no tablet), mas tinha lido pouca coisa nele, porque, para mim, a experiência de leitura no celular, especialmente, era muito desconfortável: a luz da tela do IPhone fica sempre em algum extremo para o gosto dos meus olhos. Tentei inúmeras vezes adequar o brilho, mas nunca cheguei a um ponto de que gostasse. No tablet, a ruindade na experiência de leitura não fica atrás, mas, nesse caso, por causa da ergonomia. Ainda que eu o meu seja um IPad mini, ele não funciona bem como leitor de livros para mim.
Fora essa parte física, pelo que estudei acerca de funcionamento do cérebro em relação a processo de aprendizado, telas como instrumentos de leitura não são boas. No meu perfil no Instagram, fiz até uma sequência de histórias (que seguem em destaque) explicando a que conclusões a pesquisadora Maryanne Wolff, autora do livro O cérebro no mundo digital, chegou sobre esse assunto. Então, além de eu ter um grande preconceito, achava que não me adaptaria de jeito nenhum à leitura numa tela, ainda que ela tivesse sido desenvolvida especialmente para isso.
Mas, como eu estou morando num lugar que não tem muito espaço e continuo gostando de ler, comprar um Kindle, num determinado momento do ano passado, pareceu uma boa ideia. Além disso, eu queria parar de levar o celular para a cama. Trocar uma tela por outra também me pareceu uma boa ideia. Com duas aparentemente boas ideias na cabeça, me senti pronta para, enfim, comprar o Kindle, mas não qualquer um: o Paperwhite.
O Paperwhite é a versão intermediária das opções de Kindle, por meio do qual, segundo alegação da Amazon, é possível ler como se tivesse em mãos um livro de papel, graças à temperatura de luz ajustável. Eu não posso jamais dizer que concordo com isso, porque, ainda que a história da luz deixe a experiência de leitura bem melhor do que quando usamos qualquer outra tela, ler um livro de papel segue sendo uma experiência incomparavelmente mais prazerosa e superior do que fazer a mesma coisa num leitor digital. Então, essa discussão não vai existir aqui, porque, para mim, ela não faz sentido algum (além de a comparação ser esdrúxula e risível, para dizer o mínimo).
Ainda assim, o Kindle (junto com a capa) foi uma das melhores compras que fiz. Talvez o ponto mais importante seja relacionado à sua mobilidade. Isso de ter vários livros num único dispositivo facilitou sobremaneira a minha vida de leitora. E mais: o aparelho é leve e suficientemente pequeno para caber em to-das as minhas bolsas. A consequência disso é que eu virei uma pessoa que lê no transporte público, já que ele acaba me acompanhando em quase todas as minhas saídas.
Também acho bom o fato de os livros em formato digital serem mais baratos que os físicos, algo que deixa eu e meu orçamento felizes. Ainda que a diferença de preço entre as duas versões de uma determinada obra não seja absurda e não seja capaz de causar impacto considerável num orçamento, considero esse um motivo que vale a pena pontuar.
A terceira razão que me faz ter carinho pelo Kindle é que ele, de fato, ainda que depois de alguns meses fazendo parte da minha vida, tomou o lugar do celular na frente da minha cara, antes de eu dormir. Baixei alguns livros especificamente para o momento pré-sono e leio um pouco (ou um muito, a depender da hora em que me deito) antes de adormecer. Ter conseguido criar esse ritual, mesmo que tenha trocado uma tela por outra, melhorou muito o meu adormecimento e meu sono. Isso, para a minha vida atual, foi muito importante. Sigo tendo uma uma muleta? Sim. Bem melhor que tomar qualquer coisa? Com certeza.
Uma quarta coisa é poder receber, por e-mail, os destaques que faço de cada livro que termino. Quem me falou dessa possibilidade foi Dani, que sabe que eu amo riscar tudo o que eu leio e disse que eu ia gostar de poder fazer isso. Ela tinha razão.
Quinta coisa legal: a bateria dura a vida de dez jumentos, e eu acho isso lindíssimo. Passei duas semanas no Brasil (não li tanto, confesso) e não carreguei o bicho nem meia vez. Fiquei impressionada.
O negócio de poder mandar erros para as editoras (que eu pensei que ia fazer meu coração pular de alegria) não funciona com todos os livros e eu não acho que sirva ao propósito. Do pouco que conheço do mercado, as editoras não costumam arrumar os erros das suas publicações, a não ser quando estas passam por uma reedição. Então, confesso que não entendi qual exatamente a ideia dessa ferramenta, já que a correção não acontece na prática.
Dito tudo isso, preciso dizer que acho o aparelho absolutamente péssimo de mexer, porque ele é zero intuitivo. Um dia, por exemplo, eu queria voltar à capa de um livro e não tinha a menor ideia de como fazer isso. Só consegui depois de pedir e receber ajuda de alguns seguidores. Sem falar que ainda apanho quando quero procurar livros na biblioteca, e as compras não vão direto para o aparelho (pelo menos, não vão para o meu e eu não consigo mudar essa configuração no site da Amazon).
Comprei o meu Kindle em 12 de julho do ano passado. Passados 8 meses da sua existência na minha vida, eu finalmente me sinto à vontade para recomendá-lo. Usar o Kindle não é e nunca será como ler um livro de papel, não é possível fazer essa comparação. Ter entendido e aceitado isso mudou completamente a minha percepção dele e, consequentemente, a minha relação com ele. Graças a isso, consegui abrir espaço para algo que tem me ajudado e me dado prazer. Não sei se vai acontecer o mesmo com você, não é possível prever. Mas, caso se abra, é possível que, como eu, você se surpreenda.


Link do meu Kindle na Amazon Brasil: https://amzn.to/3FyA6Ov
Link do meu Kindle na Amazon França: https://amzn.to/3Zdntzz
A capa que comprei foi esta: https://amzn.to/3yMaUAr
E eu pedi o carregador também, porque eu tinha certeza de que era específico para o Kindle, mas não é (ou seja, ninguém precisa comprar): https://amzn.to/3FykIS8
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Sou mais uma que demorou a aderir e agora, com ele, lê muito mais!